domingo, 5 de dezembro de 2010

Certo ou Errado

É possível dizer o que é certo e o que é errado na conduta de uma pessoa? Ou de um moso geral tudo é relativo, dependendo do ponto de vista de cada um?

O CERTO OU ERRADO
Luiz Gonzaga de Sousa

No mundo moderno ou antigo, sempre se discutiu a questão do certo e do errado, tendo em vista que este termo tem vários sentidos, isto significa dizer, carrega a percepção do nível de quem está colocando, e é na busca de encontrar o certo que a humanidade vem trabalhando incansavelmente para tentar conseguir esse intento. A filosofia e a religião têm se debruçado ao longo dos textos ancestrais, meditado sobre tudo que os cerca para tentar conseguir algum vislumbre sobre o que verdadeiramente significa certo e/ou errado, pois o seu diferencial deturpa o real sentido de tudo que existe. Na certeza de encontrar algum direcionamento sobre o que significa certo e/ou errado é que se pretende neste trabalho, buscar clarear o seu verdadeiro significado, para que as pessoas não fiquem trocando de posição, o certo pelo errado ou vice-versa.

Para se praticar o certo, a humanidade inventou leis e mais leis, como referencial de que as pessoas que não estivessem nestes parâmetros estariam erradas, todavia, estas leis têm refletido as vontades de quem está no poder, criando seus códigos de costumes, que quase sempre não significam o que é certo espiritualmente. Para respaldar melhor esta questão, verifica-se que quem confeccionou alguns destes ditames atribuiu a um ser divino a ordem maior na elaboração de princípios para que todos seguissem fielmente sem questionamentos e nem desobediência, porque são ordens de Deus. Com as leis, aplicaram-se as maiores arbitrariedades universais em nome de um Criador Maior que não iria passar ordens para fazer o errado em nome do certo, como a história está repleta de fatos que mostram a truculência de seres humanos em nome de um suposto Pai celestial.

Para se fazer o errado não há nada de mais natural, tendo em vista que os seres humanos que não têm conhecimentos da vida verdadeira, ainda são por assim dizer analfabetos do que é certo, bem comum na prática do errado, pois ainda está na sua faixa de inconsciência, porém não é justificável. A vida é um eterno aprendizado, com objetivo de conhecer a verdade, e é nesta busca que se praticam os erros que a princípio são entendíveis, cabendo a quem já ultrapassou essa faixa procurar orientar a todos, para que os erros não voltem a ser repetidos em detrimento da verdade. Não se pode ao longo de tanto tempo, viver praticando erros da era dos primatas, quando o homem estava ainda quase plenamente dentro do reino animal, cujo raciocínio pouco se movimentava para extrair conclusões sábias para poder se movimentar.

Quando se fala em certo e/ou errado não há como deixar de lado a problemática do direito, não como peça formal de um judiciário, mas como um parâmetro de liberdade que todos têm, cuja limitação humana toma para alguns o conceito de certo, e para os demais a reprovação do que está errado. Dentro destes conceitos, a liberdade individual aparece como uma limitação inconsciente, ao considerar que as pessoas ultrapassam o seu nível de liberdade em detrimento das liberdades alheias, pois a Autoridade Maior de tudo dotou cada ser humano do aprendizado para o processo evolutivo. Justamente para coibir os excessos de liberdade de uns sobre os outros é que surgiram as leis, as normas, como objetivo de minorar a fúria de alguém sobre os demais, tudo isto porque o certo, e o errado ainda são incógnitas para a maioria dos habitantes do planeta.

Não há como falar em certo e/ou errado sem compreender o termo justiça, pois fazer justiça significa ter uma noção dos direitos alheios, entender as fragilidades dos outros, e é neste sentido que existem os pactos sociais como meta para delimitar um pouco o que se entende por justiça e direitos de todos. Para HOBBES (1651)1

nesta lei da natureza reside a fonte e a origem da justiça. Porque sem um pacto anterior não há transferência de direito, e todo homem tem direito a todas as coisas, consequentemente nenhuma ação pode ser injusta. Mas depois de celebrado um pacto rompê-lo é injusto.

Aí está uma justificativa do entendimento do que é certo e/ou errado, todavia, é muito difícil o completo saber desses dois termos, que vai muito além da sabedoria humana, e somente um aprendizado palingenésico é quem faz entender esse processo.

Sem dúvida, as pessoas no planeta terra ainda estão muito marcadas pelos sintomas do reino animal que age por impulsão, cuja característica principal é o uso quase pleno do instinto e daí a agitação nervosa, ser o fundamental ponto de descontrole, e de não saber claramente quando se está certo e/ou quando se está errado. Ainda se tem nos dias atuais o sentido de que o certo está na força, e é fácil de observar nos encontros de contrários, pois neste momento, o falar mais alto para intimidar, ou a imposição de um corpo físico avantajado é a exigência do direito, ou do seu certo. Com esta visão, o errado toma a sua posição de vanguarda, o certo se retrai por conta da ignorância de quem não conhece os seus limites e procura tirar vantagens de algo que caracteriza a sua verdade, ou o seu certo em detrimento do verdadeiro sentido do termo.

Discutir o certo e/ou errado significa ter um referencial de suma importância para poder extrair algumas conclusões importantes, isto significa dizer que o ladrão tem um referencial de verdade, o assassino tem outro referencial de verdade, um senhor de bem tem um outro referencial de verdade, e assim sucessivamente. Frente a isto, tem-se que o certo vem se construindo e o errado vem se eliminando a cada instante, como se fosse em uma escala, pois quando se aumenta a verdade, diminui-se o errado, ou quando se permanece no erro, o certo não aparece com facilidade. Neste sentido, é que colocou William JAMES (1909)2, ao explicar a questão da verdade pelo lado do pragmatismo, onde ela vai aparecendo diante dos fatos, porém a sua aceitabilidade pelos participantes dela é que vai torná-la verdadeira ou falsa, isto é a sua verificação.

Inegavelmente, o certo e/ou errado quando não se tem consciência de si próprio, quando as condições pessoais não conduzem ao pensar, o certo parte claramente do pragmatismo, do que se vai convencionando pela experiência e daí se cria a relatividade do termo a passos lentos sem o raciocinar intelectualmente falando. Não se pode dizer que isto acontece do mesmo modo no ocaso do século XX, tendo em vista que o nível intelectual é diferente do daqueles que viveram nos primórdios da humanidade, cujos conceitos foram surgindo pela convivência diária entre todos. No final do século XX, o nível de raciocínio é muito grande, já tendo entendimento do certo e/ou do errado não mais pelo pragmatismo, mas pela formação de uma consciência, de uma libertação da ignorância que sempre dificultou o progresso do ser humano de todos os tempos.

A problemática do certo e/ou errado passa por todos os campos do conhecimento, desde o processo de sobrevivência natural até a necessidade religiosa que mexe com os sentimentos de quem procura se encontrar no contexto universal; para um direcionamento correto do que seja verdadeiro ou enganoso para a vida humana. Entrementes, as experiências do passado contribuíram para que se tivesse na modernidade uma lida mais consciente, menos animalizada e, sobretudo, conduzida pelo livre arbítrio que todos têm que conquistar ao longo das vidas sucessivas. Assim sendo, tem-se conseguido o entendimento correto do que seja na verdade o certo, e banido de uma vez por todas as inferioridades, ou falta de conhecimento sobre os limites do ser humano, tanto de si próprio, como da sua relação com os demais e a natureza que dá suporte a tudo.

Impaciente com a demora com que os seres humanos e a espiritualidade inferior caminham ao longo da história, é que atuaram os espíritos superiores, ou pelo menos os que estão num nível bem maior do que os do planeta terra, para proporcionar uma oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a eternidade. Diante disto surgiu “O Livro dos Espíritos”, como uma maneira de orientar a todos aqueles que viam no mediunismo uma brincadeira de salão, todavia, por traz de tudo isto estava a vontade espiritual de indicar objetivamente o que seria certo e/ou o que seria errado. Com este prático e famoso livro veio o espiritismo, quer dizer os ensinamentos enviados pela espiritualidade para implantar o verdadeiro sentido da vida, o conhecimento da verdade, como dizem que falou JESUS: conhecereis a verdade e a verdade vos libertará, isto é o certo, sem dúvida eliminando o errado.

Não há como negar que a teoria pragmática de William JAMES (1842-1910), vai um pouco pela linha do learning by doing de ARROW (1963), das quedas do cotidiano, dos sofrimentos de muitos que alguém não aceita como uma forma de aprendizado para a vida, cuja mente ainda não se libertou de sua cegueira espiritual que reflete no material. Dificilmente se conseguirá que um cego enxergue algo que alguém mostre ao longe ou perto, sem que ele experimente tocá-lo ou sem ter tocado antes, não pode armazenar alguma informação que possa identificar aquilo que deverá ser o certo à sua percepção material e mental. A mente é quem trabalho, contudo, o corpo físico limita o processo de aceitabilidade do certo e/ou errado, tendo em vista que a composição física cria novas modalidades de entendimento e de aceitação, dada a conjuntura de tudo que o cerca naquele momento.

O espiritismo não faz ninguém sapiente, no entanto, proporciona maneiras de como iniciar o processo de aprendizado para o conhecimento do certo e/ou do errado, tal como fizeram muitos filósofos e psicólogos, que investigaram numa observação intransigente a verdade e a não verdade, o acerto e o não acerto. Nesta conjuntura epistemológica, verifica-se que o ser humano tem o que muito aprender, ao considerar que a evolução do homem diz respeito ao crescimento dos outros seguimentos que participam da natureza, porque aquele é o único pensante que existe. Sendo o Criador Maior a inteligência suprema de tudo e o ser humano alguém inteligente, que seria semelhante ao Pai, pelo menos nos sentidos, tendo em vista que Deus é a pureza maior dos maiores na escala evolutiva de todos que buscam a pureza e o amor, tudo depende da humanidade.

Frente a tudo isto, pode-se concluir que o certo e/ou errado é algo relativo e participativo do processo de evolução de tudo que existe na criação divina, porque tudo isto faz parte da benevolência do Pai Maior, proporcionando oportunidade de conhecer pela vontade própria de cada um, a necessidade do sentimento holístico. Também se conclui que sem a prática do dia-a-dia não se consegue ter consciência de tudo que o cerca, e isto deve ser conseguido por cada um individualmente, pois ninguém carrega a cruz dos outros, pode-se apenas ajudar no aprendizado dessa evolução que todos necessitam. Em resumo, o amor da Criação de tudo é imenso, que proporciona a todos, a mesma oportunidade na compreensão, ou na descoberta de tudo que os cerca indistintamente quanto à raça, à classe social, à nacionalidade, sobretudo, ao intelectualismo individual, mesmo no menor nível possível.